terça-feira, 18 de maio de 2010

A IGREJA E AS UNIVERSIDADES

Por: Dom Redovino Rizzardo

Inúmeros jovens, que não conseguem ir além das poucas noções de catequese aprendidas quando crianças, ao terminar a universidade se descobrem ateus e agnósticos, sobretudo pelas críticas que ouvem contra o "obscurantismo" da Igreja ao longo da história, principalmente durante a Idade Média, sempre vista como um período de ignorância, superstição e repressão.

No entanto, foi exatamente a Idade Média que ofereceu a maior contribuição intelectual que o mundo conheceu até hoje, ao dar início às universidades, que nasceram sem nenhum precedente histórico. Como se sabe, na antiguidade, pelo menos no mundo greco-romano, cada filósofo e mestre de ciências tinha a sua escola, totalmente diferente do que é hoje a universidade. Ela surgiu na Idade Média, pelas mãos da Igreja Católica, à sombra das catedrais e dos mosteiros, e logo se transformou num poderoso centro de saber e de erudição. Para o escritor Daniel Rops, "a Igreja é a mãe de todas as universidades".

É esta também a convicção do conceituado comunicador e professor Felipe Aquino, num artigo que escreveu há poucos meses, e que me permito sintetizar e repassar.

Desde os seus primórdios, as catedrais, mosteiros e abadias, competiam entre si na fundação de escolas, para a formação de quantos desejassem penetrar no mundo misterioso da ciência, independentemente se fossem candidatos à vida eclesiástica, filhos da nobreza ou membros da plebe. Foi da fusão de duas delas que surgiu a primeira universidade do mundo ocidental, em Bolonha, na Itália, no ano de 1158. Quarenta anos depois, em 1200, ela contava com dez mil estudantes, de vários países da Europa. A segunda universidade que superou a primeira na fama foi a Sorbone, de Paris, nascida da escola episcopal da catedral de Notre Dame, fundada em 1170, por Sorbon, confessor do rei São Luiz IX. Nela se formaram personalidades do mundo científico, político e eclesiástico do mundo inteiro inclusive santos, como Tomás de Aquino, Inácio de Loyola e Francisco Xavier.

Em 1440, a Europa contava com 55 universidades e 12 institutos de ensino superior, todos fundados pela Igreja. Neles se estudava direito, medicina, línguas, artes, ciências, filosofia e teologia. Em 1311, no Concílio de Viena, o Papa Clemente V ordenou que, no curso de línguas, fossem incluídos o hebreu, o caldeu, o árabe e o armênio, medida logo acatada por todas as universidades católicas, começando pelas mais importantes: Paris, Bolonha, Oxford, Salamanca e Coimbra.

Em Roma, até mesmo a Universidade La Sapienza uma das maiores do mundo, com 150.000 alunos, e que ganhou as manchetes da imprensa internacional em janeiro de 2008, quando um grupo de estudantes e professores impediu o Papa Bento XVI de nela proferir a aula inaugural, foi fundada pelo Papa Bonifácio VIII, em 1303.

Assim conclui o professor Felipe Aquino , mais do que se assemelhar a uma longa e tenebrosa noite escura, o que a Idade Média fez foi oferecer ao mundo centenas de universidades, que se tornaram centros de intensa vida intelectual, onde homens renomados se enfrentavam em discussões apaixonadas nos grandes problemas que agitavam a humanidade. A fé se transformava em fermento, que fazia a cultura crescer.

Os papas sabiam da importância das universidades para a Igreja e a sociedade, e intervinham seguidamente em seu auxílio. Um deles, Honório III, em 1220, defendeu os universitários de Bolonha contra as restrições de suas liberdades impostas pela autoridade civil. Por sua vez, Gregório IX, que governou a Igreja de 1227 a 1241, concedeu à universidade de Paris o direito de se auto-governar, com leis próprias para os cursos e estudos, emancipando-a da interferências das dioceses e colocando-a sob a sua direta jurisdição.

Um grande mérito das universidades medievais, que não deve ser menosprezado, foi a sua atenção à realidade social e política que as cercavam. Apesar de nem sempre terem obtido resultados satisfatórios, elas lutaram tenazmente contra a tentação de fugir para um aprendizado e uma cultura abstratos e descomprometidos, um saber direcionado exclusivamente para benefícios e interesses pessoais. O princípio e a orientação foram dados por São Bernardo de Claraval: "Não estude apenas para sua própria satisfação, mas para ser útil aos demais; o saber pelo saber não passa de uma curiosidade indigna".

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