quinta-feira, 6 de maio de 2010

O Bom Pastor e os falsos pastores



Pensando em toda esta crise moral que envolve nossas lideranças, é útil recordar as palavras de Bento XVI na homilia de inauguração do seu pontificado. Ao explicar o sentido do pálio – aquela estola de lã que o Papa e os arcebispos usam em volta do pescoço, sobre a casula – o Santo Padre explicava: “No Antigo Oriente era costume que os reis se designassem como pastores do seu povo. Esta era uma imagem do seu poder, uma imagem cínica: os povos eram para eles como ovelhas, das quais o pastor podia dispor como lhe aprazia. Enquanto o pastor de todos os homens, o Deus vivo, se tornou ele mesmo cordeiro, pôs-se do lado dos cordeiros, daqueles que são esmagados e mortos”. Palavras eloqüentes, dramáticas!

Nossos “pastores”, nossos líderes políticos, julgam-se os donos do povo, os donos do País, do Estado. Usam o poder em benefício próprio, confundem um projeto de governo enquanto serviço ao bem comum com projeto de poder pessoal, de lucro vil, de enriquecimento ilícito e de perpetuação em cargos que lhes permitam privilégios e regalias. Como diz o Papa: “No Antigo Oriente era costume que os reis se designassem como pastores do seu povo. Esta era uma imagem do seu poder, uma imagem cínica: os povos eram para eles como ovelhas, das quais o pastor podia dispor como lhe aprazia”.

Contrastando com este modelo cínico e predador de pastor, o Papa fala do Deus feito homem, Jesus Cristo: “Enquanto o pastor de todos os homens, o Deus vivo, se tornou ele mesmo cordeiro, pôs-se do lado dos cordeiros, daqueles que são esmagados e mortos”. Ele mesmo disse: “Eu sou o Bom Pastor”, isto é, o Belo, o Perfeito, o Pleno Pastor! E por quê? Por dois motivos: “Eu dou a minha vida pelas minhas ovelhas. Eu conheço as minhas ovelhas”. Conhecer aqui significa amá-las, conviver com as ovelhas, tomar parte no destino delas. E, precisamente porque as conhece, as ama e, amando-as, dá a vida: “O Bom Pastor dá a vida pelas ovelhas!” O mau pastor espolia as ovelhas, não tem compaixão delas; vem para mentir, roubar, enganar e matar... É um contraste gritante, enorme!

Numa outra ocasião, Jesus diz aos seus discípulos: “"Os reis das nações as dominam, e os que as tiranizam são chamados Benfeitores. Quanto a vós, não deverá ser assim; pelo contrário, o maior dentre vós torne-se como o mais jovem, e o que governa como aquele que serve. Pois, qual é o maior: o que está à mesa, ou aquele que serve? Não é aquele que está à mesa? Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve!” Certamente, também estas são palavras bem contrárias ao modo de sentir e exercer o poder entre nós, inclusive entre os cristãos!

Neste ano de eleição, seria tão bom que nós, cristãos, e até mesmo a sociedade como um todo, tomássemos os critérios de Jesus para pensar e avaliar os candidatos aos cargos públicos:

(a) O espírito sincero de serviço ao bem comum.

(b) A preocupação com uma vida mais digna para as pessoas, sobretudo as mais fragilizadas e carentes.

(c) Uma atitude de desprendimento frente ao poder, evitando a tentação de julgar-se “salvador da pátria”, com a ganância maldita de perpetuar-se no poder.

(d) A coragem de evitar a arrogância de quem se coloca acima da lei, acima do bem e do mal e utilizar o poder recebido para servir como poder conquistado em benefício próprio.

É triste constatar tantos “políticos-pastores” que se dizem cristãos e usam o poder cinicamente como predadores do rebanho, que são os cidadãos! E mais triste ainda é pensar que foram pessoas cristãs – a grande maioria de população – que os colocaram lá, no poder, onde eles estão buscando a lã e o leite das ovelhas. Como explicava muito bem Santo Agostinho, a lã são as honrarias e aplausos e o leite é o dinheiro público, roubado sem dó nem piedade.

Fique diante de nossos olhos e no nosso coração o Bom Pastor, que veio para servir e dar a vida pelo rebanho! Ele sim, venceu e vive para sempre, como canta, de modo comovente, a santa Liturgia:


“Ressuscitou o Bom Pastor que deu a vida pelas ovelhas e quis morrer pelo rebanho. Aleluia!”


Por: D. Henrique Soares da Costa

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