domingo, 23 de maio de 2010

MENSAGEM PARA A SOLENIDADE DE PENTECOSTES

Fonte: Abadia de São Bento de Singeverga - Portugal

"Cada qual os ouvia falar na sua própria língua"


De acordo com o quarto evangelho, Jesus ressuscitado, no próprio dia da sua ressurreição, apareceu no meio dos seus discípulos, saudou-os e deu-se a conhecer através dos sinais da sua paixão e morte, soprou sobre eles e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo”. Nos Actos dos Apóstolos, depois de Jesus ter subido ao Pai, enquanto os discípulos estavam reunidos no mesmo lugar, desceu o Espírito Santo, como rumor e forte rajada de vento, como línguas de fogo.

As narrações de João e Lucas querem demonstrar que o mesmo Espírito, pelo qual o Pai tinha ressuscitado Jesus da morte e lhe deu uma vida nova, foi do mesmo modo enviado por Jesus aos seus discípulos, porque Jesus e a sua comunidade partilham o mesmo espírito, o Espírito Santo. Pentecostes significa, portanto, a plenitude da epifania pascal, para que as energias do ressuscitado continuem na sua comunidade, para que, graças ao Espírito Santo, adquira a fé em Jesus Cristo Filho de Deus e a capacidade de o anunciar e testemunhar na história.

Pentecostes, para o povo de Israel, era a festa memorial do dom da Lei no Sinai, a festa da Aliança. Para a comunidade de Jesus o dom do Espírito é a celebração da nova Aliança, última e definitiva. Jesus não abandonou a sua Igreja, nem com a Ascensão ao céu se operou uma separação a ponto de terminar a sua acção no mundo: a comunidade dos crentes partilha com Jesus a mesma vida, o mesmo Espírito, e isto proporciona-lhe a continuação da acção de Jesus: anunciar a boa notícia, fazer o bem, curar aqueles que estão sob o domínio do demónio. Tal como Jesus foi consagrado pelo Espírito Santo para a missão, o mesmo acontece com a sua Igreja no Pentecostes (Cf. Act 10,38).

Nesta perspectiva o quarto evangelho esclarece que o dom do Espírito é oferecido para que os discípulos anunciem a remissão dos pecados e reúnam os filhos de Deus que se encontram dispersos, enquanto o livro dos Actos dos Apóstolos testemunham que o anúncio de Cristo ressuscitado é feito pela Igreja em diversas línguas de fogo. A este propósito escreve S. Bernardo de Claraval: “O Espírito desceu sobre os discípulos em forma de línguas de fogo para que transmitissem palavras de fogo em todas as línguas e anunciassem uma lei incendiária com línguas incendiárias”.

Reunião dos filhos de Deus que andavam dispersos, anti-Babel, a festa do Pentecostes é o início dos últimos tempos, os tempos da Igreja. Com Babel iniciara a confusão das línguas e a tentativa de ligar a terra e o céu com a construção de uma torre que subia ao céu, mas com o Pentecostes surge o milagre das línguas audíveis e compreendidas por todos, é o próprio Espírito que desce para estabelecer a comunhão entre Deus e os homens. As línguas dos homens continuam diferentes e esta pluralidade de línguas, de culturas, de história não é anulada: o Espírito Santo fomenta a unidade, uma unidade plural, com muitos dons e todos os membros que compõem o único corpo do Senhor que é a Igreja. A diversidade deve subsistir sem anular a unidade e esta não deve suprimir a multiplicidade.

O milagre das línguas suscitado pelo Espírito indica à Igreja o dever de conciliar a unidade da Palavra de Deus com a multiplicidade dos modos nos quais ela deverá ser vivida e anunciada, tanto na comunidade dos crentes, como também no meio de todos os povos: a Igreja não deve impor uma linguagem própria, mas deve entrar na linguagem dos homens para anunciar as maravilhas de Deus de acordo com a diversidade de formas e de compreensão.

O Espírito que desceu no dia de Pentecostes continua a interpelar a igreja para que continue a procurar caminhos e modos que considerem a alteridade não como motivo de conflito e inimizade, mas de comunhão. Deste modo, a Igreja poderá ser sinal do Reino universal que virá e para o qual toda a humanidade, apesar das diferenças que a caracteriza, é chamada e conduzida pelo Espírito Santo.

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