Por: Everton do N. Siqueira
Tenho visto diversos carros em nossa cidade com um enorme escrito na parte traseira “FICAR É PECADO!” (Uma afirmação).
Com base nisso, resolvi escrever esse texto para esclarecer um pouco mais sobre o assunto.
Em primeiro lugar, temos que entender que a moral cristã não se baseia em “listas de pecados” ou tabela com duas colunas “Sim, pode” X “Não, não pode”, mas em uma análise de princípios abstratos que devem ser aplicados aos casos práticos. Por isso você não vai encontrar em nenhum documento magisterial a afirmação “Ficar é pecado!” ou o contrário. E exatamente por isso sou totalmente contra esse tipo de propaganda puritana colada nas traseiras dos veículos.
O termo “ficar”, tão popular entre os jovens pode ser entendido de diversas formas às quais tentarei dividir em três modalidades:
Há aqueles que vão para uma balada ou festa, ou qualquer outro ambiente na tentativa de “ficar” com uma pessoa (ou várias), no sentido de dizer poucas palavras, dar um beijo (ou vários), abraçar, aproveitar de um momento de suposta “felicidade” sem o menor compromisso.
O ser humano, criado por Deus sua imagem e semelhança deve ser visto e respeitado como tal. Num relacionamento humano, é a razão que deve ser a palavra chave, e nunca o instinto. Quando o corpo humano se torna um simples produto, usado para se alcançar um benefício próprio, ele está ferindo diretamente os Mandamentos de Deus.
O nosso corpo é Templo do Espírito Santo (Conf. 1 Cor 6,19) e não pode ser comercializado ao preço de uma satisfação momentânea ou de um status perante os amigos e as amigas. Um beijo dessas “ficadas” que os jovens costumam dar em pessoas desconhecidas (muitas vezes sequer sabendo o nome da outra pessoa) assemelha-se ao beijo de Judas, uma verdadeira traição, uma traição à realidade natural do homem que é imagem e semelhança de Deus.
A pergunta aqui deveria ser substituída: Ao invés de perguntar: “Ficar é pecado?” deveríamos perguntar: “Usar o outro como mero objeto de satisfação momentânea ou de prazer egoísta é pecado?” – A resposta, creio que todos já saibamos.
Outra “modalidade” do ficar diz respeito a pessoas se conhecem, e passam a sair juntas por um tempo, qualquer pessoa poderia alegar que estão namorando, mas a diferença essencial é que não existe cobrança, nem fidelidade e muito menos compromisso e respeito.
Nessa “modalidade” enquanto se está ficando com alguém, o jovem pode beijar outra pessoa, pode sumir sem dar satisfações, pode ignorar a pessoa quando a vê na rua, pode até tratar o outro com total indiferença, afinal “não estão namorando”, não pode existir cobranças. Nessa “modalidade” além do total desrespeito ao próximo (exatamente como acontece no exemplo acima) as pessoas assemelham-se àquele homem insensato que constrói a sua casa sobre a areia, construindo um relacionamento sobre a falsidade e a hipocrisia. (Conf Mt 7,26s; Lc 6,49) As mais prejudicadas nessa “modalidade” são as mulheres que aceitam essa humilhação na esperança de que esse “ficar” se torne algo sério e possa vir a se tornar um namoro autêntico e duradouro.
Por último, temos uma “modalidade” de ficar que consiste em sair juntos por determinado tempo para decidir se são ou não compatíveis a iniciar um namoro.
Claro que, neste “sair juntos”, as vezes pode rolar um beijo (ou alguns) que, dentro dos limites, não caracteriza um pecado, já que não se trata de usar o outro para sua própria satisfação, mas apenas um estágio intermediário que pode vir a se tornar um autêntico namoro.
Feitas essas considerações, convém lembrar que estamos diante de uma tentativa de banalização das relações amorosas, do sexo e do valor humano. Se alguns querem impor essa banalização dos relacionamentos como cultura brasileira ou como moda inocente, compete a nós, cristãos, impedir esse erro ensinando nossas crianças e nossos jovens a respeitar e valorizar o ser humano como um todo, imagem e semelhança de Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário