quinta-feira, 13 de maio de 2010

Visita do Papa Bento XVI ao Santuário de Fátima - Portugal


Foi uma das primeiras coisas que Bento XVI disse à chegada a Portugal: "Venho como peregrino de Fátima." A intenção concretizou-se ontem eram 17h30. Bento XVI saiu do papamóvel e ajoelhou-se perante a imagem de Nossa Senhora. Como os peregrinos que ontem chegavam a pé ao santuário, o Papa culminou uma caminhada que assinala os dez anos da beatificação dos pastorinhos Francisco e Jacinta e cinco anos de pontificado. Não parece ser coincidência: ainda durante o voo para Lisboa, Bento XVI disse que a igreja tem de reaprender virtudes como penitência e oração pedidas em Fátima aos pastorinhos há 93 anos

É pouco provável que as intervenções de Bento XVI nas cerimónias dos próximos dias toquem os temas polémicos com que a igreja mundial e também a portuguesa se debateram durante o seu pontificado. Mas para o teólogo Peter Stilwell, parece claro que é esse o pano de fundo que traz Bento XVI a Portugal com os olhos em Fátima. "No início do seu pontificado, sentia-se até que Bento XVI orientava a atenção da igreja para outros santuários marianos. A intenção hoje será diferente. Bento XVI deve ter despertado para o terceiro segredo de Fátima [Lúcia relatou a visão do papa atacado por setas e tiros] com tudo o que se tem passado na igreja, em que ele tem sido o bombo da festa."

Bento XVI deverá falar de um caminho para a alegria que passa por um regresso às virtudes pedidas aos pastorinhos. Ontem, ao final da tarde, na Igreja da Santíssima Trindade, dirigiu-se aos religiosos e falou da necessidade de serem "livres para serem santos, livres para serem pobres, castos e obedientes, livres para levar a sociedade actual a Jesus Cristo." Na capelinha das aparições, sublinhou que num tempo em que "a chama da fé corre o risco de se apagar, a prioridade que está acima de todas é tornar Deus presente neste mundo."

Para o teólogo Peter Stilwell, a mensagem final vai ganhando forma: "A nossa capacidade de diálogo com o mundo parte por aprofundar o centro da nossa fé e isso implica uma conversão permanente", acredita, sublinhando que as intervenções de Fátima, hoje, deverão ser dirigidas ao mundo, e não tão localizadas quanto a de Lisboa.

A ideia de que Bento XVI poderia regressar ao terceiro segredo de Fátima para uma nova interpretação tem sido rejeitada pelos principais vaticanistas. No voo papal, Bento XVI sublinhou, contudo, que apesar do atentado contra o Papa transmitido a Lúcia ter sido associado a João Paulo II, "outras realidades são reveladas e vão desenvolver-se e tornar-se clara ao longo do tempo." O facto de ter feito uma alusão aos recentes casos de pedofilia, que dão uma visão aterradora do pecado que também existe no interior da igreja, sublinhou Bento XVI, fez regressar as polémicas dos segredos.

E em 1917 a Virgem Maria disse "Etc" "Nossa Senhora é a nossa garantia materna visível que a vontade de Deus é sempre a última palavra na história", disse Bento XVI antes de aterrar em Portugal. Essa garantia visível demorou a ser usada pela igreja como uma das maiores forças da fé católica.

Depois de décadas de silêncio quase absoluto, Tarcisio Bertone abriu o jogo e revelou ao mundo o conteúdo do terceiro segredo de Fátima em Julho de 2000. O então secretário da Congregação para a Doutrina da Fé contou que, afinal, o que Nossa Senhora de Fátima disse aos pastorinhos - pedindo-lhes segredo - era a profecia do atentado que João Paulo II viria a sofrer no dia 13 de Maio de 1981.

Sendo essa a revelação, porque é que o Vaticano escondeu a predição durante 19 anos? Esta foi a primeira pergunta que um investigador italiano, Solideo Paolini, fez na altura ao arcebispo Loris Capovilla (antigo secretário de João XXIII, o primeiro Papa a ter acesso à carta da Irmã Lúcia que continha as profecias). O arcebispo respondeu de forma enigmática: "Devo defender o que foi dito nos documentos oficiais. Mesmo que saiba algo mais." E entregou ao investigador uma série de documentos onde saltava à vista, desde logo, uma primeira incongruência. Nos papéis dizia que o Papa Paulo VI tinha aberto o envelope com o segredo a 27 de Junho de 1963. Mas o que Tarcisio Bertone disse em 2000 é que Paulo VI tinha lido o segredo no dia 27 de Março de 1965.

Lori Capovilla entregou as informações que recolheu a um escritor, Antonio Socci, que depois escreveu o livro "O Quarto Segredo de Fátima". A tese é polémica: o Vaticano esconde uma segunda parte do terceiro segredo de Fátima. Trata-se de mais uma profecia que se refere a uma grave crise de fé no seio da Igreja. A tese tem como ponto de partida uma frase que a Irmã Lúcia registou nas suas memórias, dita por Nossa Senhora: "Em Portugal, o dogma da fé será sempre preservado, etc.". A palavra "etc", acreditam os investigadores, é a chave. E encerra a segunda parte do segredo que nunca foi revelada. Para o Vaticano, contudo, o assunto está encerrado.
 

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