Antes de tudo é preciso entender bem quem é um Santo. A Igreja Católica só canoniza, isto é, declara santos, católicos. Isto não é preconceito com as pessoas boas de outras religiões; ela não é cega para a bondade humana fora dela. Homens e mulheres bons podem ser achados onde quer que os homens vivam; mas a “perfeição cristã” só é encontrada na verdadeira Igreja de Jesus Cristo, pois o Concilio Vaticano II deixou claro que somente nela há a “plenitude dos meios da salvação” (UR,3).
Jesus Cristo instituiu a Igreja para santificar os homens, especialmente pelos Sacramentos, que só ela tem, e ela entende que só dentro dela esse desígnio pode ser realizado.
Os homens e as mulheres que a igreja Católica chama de “Santos” são milhares, mais de vinte e sete mil como afirma René Fullop Muller, em seu livro “Os Santos que abalaram o mundo”. São de todas as condições de vida, raças, cores, culturas, países, etc. Porém uma coisa é comum a todos: eles foram heroicamente bons; basta analisar a vida deles. Os processos de beatificação e canonização são rigorosíssimos e por isso, demorados; qualquer dúvida por menor que seja, pára o processo.
Antes desta declaração, ninguém pode ser honrado com orações públicas e nem suas relíquias veneradas publicamente. A devoção privada, individual, sobre isso é outra questão. Se um católico está no Céu, então certamente pode ajudar os outros aqui na terra pela sua influência junto a Deus, mesmo que não esteja oficialmente canonizado. Mas, para a Igreja em geral, deve haver sobre isso certeza para todos, e essa certeza só pode vir com a solene declaração de santidade formulada pela Igreja Católica, através unicamente de decreto do Papa.
Esse poder que leva à santidade vem da redenção que Cristo trouxe. Ele venceu o pecado, remiu-nos da escravidão do demônio, e deixou-nos a “graça”, e os meios necessários para nos ajudar a sermos santos: a Santa Palavra, os Sacramentos, a oração, a valorização do sofrimento, do trabalho, da família, etc. Cristo estabeleceu uma Igreja que tem todos os meios requeridos para fazer os homens santos. Deu à sua Igreja o poder de ensinar sem erro, autoridade para fazer leis sábias e santas.
Essa graça é um dom especial de Deus que nos coloca para trabalhar num plano mais alto do que o plano natural.
Ela só vem através de Cristo. S. Pedro conheceu bem que sem a graça de Deus não se pode chegar à santidade: “Como crianças recém-nascidas desejai com ardor o leite espiritual que vos fará crescer para a salvação, se é que tendes saboreado quão suave é o Senhor (Sl 33,9). Achegai-vos a ele, pedra viva que os homens rejeitaram, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus; e quais outras pedras vivas, vós também vos tornais os materiais deste edifício espiritual, um sacerdócio santo, para oferecer vítimas espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo.” (1 Ped 2, 2-5).
A Igreja Católica pode gloriosamente mostrar ao mundo vinte séculos de muitos santos de todas as épocas, como prova de que a Igreja de Cristo tem realmente cumprido o que Ele pretendia que ela fizesse. A história da Igreja Católica mostra uma clara e extraordinária manifestação de santidade que só pode ser explicada por um poder de santificação dado por Cristo e implícito nela.
A santidade é basicamente a estreita união do homem com Deus; desse contacto resulta a perfeição moral. Deus é santo por natureza; os homens são santos na medida em que se aproximam dele. No céu todos os bem-aventurados estão intimamente unidos a Deus pela visão imediata dele. Isto é chamado de “visão beatífica”. Todos os que estão no céu atingiram a santidade perfeita.
Aqui na terra os homens são unidos a Deus por meio da sua graça. Esta graça é um dom, livremente dado por Deus, pelo qual nos tornamos “participantes da natureza divina”, como S. Pedro. afirma (2 Pd 1, 4). Quanto mais graça um homem tem, tanto mais semelhante a Deus se torna.
Um santo canonizado foi alguém que na terra praticou a bondade heróica em todas as suas ações. Note, “em todas as suas ações”. Um homem ou uma mulher não é canonizado por ter uma só virtude. Não é suficiente que ele não tenha faltas salientes. Mesmo uma pequena fraqueza é uma grande falta num santo. Um santo tem um controle perfeito de todas as virtudes. Ninguém tem que desculpá-lo, dizendo que ele é um homem bom de coração, mas um homem difícil de suportar; ou que ele tem um senso inflamado da justiça social, mas não é muito de oração.
O santo não faz da sua vida espetáculo. Começa pelas virtudes sólidas, comuns da vida cristã, e depois desenvolve-as até um grau extraordinário. S. Vicente de Paulo costumava dizer que “um cristão não deveria fazer coisas extraordinárias, mas sim fazer extraordinariamente bem as coisas ordinárias.”
Seres humanos chegam a ser santos travando batalha consigo mesmo, com a carne e com o demônio. Partem do triste estado da nossa fraqueza comum, porém, antes de morrerem, atingem a santidade pela graça de Deus. E isto é possível a todos os batizados.
Muitos santos não foram tão santos antes de se porem neste caminho. Santo Agostinho assombrou o mundo pela sua Confissão do que ele tinha sido na sua mocidade, um moço desajuizado que viveu as suas farras na África e na Europa até se converter. Era amasiado e tinha um filho (Adeodato), antes de se converter aos 33 anos. S. Jerônimo, o famoso sábio bíblico, foi um velho descontente enquanto o seu mundo erudito não começou a ruir em volta da sua cabeça durante as invasões dos bárbaros em Roma, mas elevou-se às alturas da santidade em resposta à miséria da sua época.
O teste do santo não é como ele começou. Pode ele ter sido um bom homem, mas um homem com muitas imperfeições. Ou pode ter sido um grande pecador. O que importa é que tenha cooperado em tal grau com a graça de Deus que trabalhava nele, que, antes de morrer, tenha atingido todas as virtudes.
Um santo vence a fraqueza. Por isto a Igreja Católica não hesita em examinar no processo de beatificação minuciosamente tudo o que um santo fez. Especial atenção é dada aos escritos do santo em questão. Um homem exprime seus íntimos pensamentos escrevendo. Se a Igreja acha nesses escritos alguma coisa que peca contra a verdade, algo que é desequilibrado ou mau, então sabe que não está tratando com um santo.
Os santos são cada um do seu jeito; cada um buscando a Deus pelo modo mais conveniente à sua própria personalidade. As circunstâncias de suas vidas e as suas capacidades naturais manifestavam uma virtude mais do que outra, um método de desenvolver a santidade mais do que outro.
S. Luís de França, por exemplo, era um rei, e um rei tão grande que os franceses ainda hoje o honram como o pai do seu país. Nasceu para governar, e o fez com firmeza e justiça cristã. Santo Hermenegildo, da Espanha, também nasceu para governar; mas nunca teve essa oportunidade. Foi morto enquanto ainda era moço.
A sua grande virtude foi o sofrimento paciente. S. Vicente de Paulo, foi um santo que amava os pobres intensamente e de maneira prática. Santo Tomás de Aquino não teve lá muito que ver com os pobres. Nasceu aristocrata e veio a ser professor numa universidade. A sua característica era a simplicidade e a humildade em investigar a verdade como um dos mais profundos intelectuais de todos os tempos. Era santo. Em cada santo encontramos uma singularidade.
Só quando a bondade se manifesta em toda parte e sem restrição é que temos a santidade. A Igreja Católica tem uma “prova de fogo” final para medir a união com Deus daqueles que são reputados santos. É o poder que essas pessoas têm, especialmente depois da morte, de rogar a Deus com tal eficácia, que Deus opera milagres por causa das orações delas. Esta é a maior prova exigida pela Igreja; sem isto não há beatificação e canonização. É bom lembrar aqui que os milagres são atestados pela Medicina e não pela Igreja. No caso de cura de doença, deve ser comprovado que a cura foi total e irreversível, de maneira abrupta e de uma doença considera pelos médicos sem cura na época.
É a prova final que não admite dúvida. Se Deus se dignou de operar um milagre pela intercessão de tal católico, então fora de toda dúvida essa pessoa está no céu. Não há dúvida de que ela é santa.
Os santos não foram pessoas raras e especiais que viveram numa só terra ou numa só época particular. Pertencem a todas as épocas e a todas as nacionalidades. S. Policarpo, natural da Ásia Menor, viveu no século II; já S. Pio X foi um italiano e um Papa do século XX. Os quatro homens que são chamados os Padres do ocidente, isto é, Santo Agostinho, S. Jerônimo, Santo Ambrósio e S. Gregório Magno, eram respectivamente da África do Norte, da Iugoslávia e da Itália, e viveram entre os séculos quarto e sexto. Santa Francisca Cabrini era uma freira italiana que fundou hospitais em Nova York e em Chicago.
Houve mártires em Nagassaki, no Japão, e padres na Rússia, que foram declarados santos pela Igreja Católica. O que é talvez mais surpreendente é a enorme variedade de personalidades entre esses santos. Eram reis e rainhas, sapateiros e agricultores, sacerdotes, bispos, freiras, soldados, juristas, professores, donas de casa e mulheres profissionais, que elevaram-se às alturas da santidade. Nenhuma classe tem o monopólio da santidade, embora talvez bispos e religiosos, por força da sua profissão, se tenham mais freqüentemente chegado à santidade.
Então, quando a Igreja Católica pronuncia de modo solene que alguém é um Santo, não se apóia apenas na prudência humana, mas pela evidência disso na forma de milagres operados por Deus pela intercessão do Santo. Este é o selo da aprovação divina sobre a santidade da pessoa investigada.
Cristo disse à sua Igreja: “Eis que eu estou convosco todos os dias até à consumação dos séculos” (Mt 28, 20). E prometeu á Igreja no Cenáculo, na Última Ceia: “Quando vier o Espírito Santo, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade” (Jo 16,13). Estas são promessas especiais de Jesus para auxílio divino para a Igreja. Por causa dessas promessas, ao canonizar um Santo, a Igreja Católica é infalível; isto é, não pode cometer erro.– não pode transviar a Igreja inteira. Jesus disse a Pedro: “Tudo o que ligares na terra será ligado no céu” (Mt 16, 18).
Nenhum comentário:
Postar um comentário